A Máquina Humana

Desde o advento da ciência, temos assistido a uma crescente dessacralização do corpo humano, são inúmeras as comparações da ciência, do corpo humano e órgãos, como sendo um verdadeiro sistema mecânico e padronizado, como se verdadeiramente funcionássemos como máquinas, sustentadas por uma grande bateria, chamada coração. Ainda atuamos sob um paradigma Newtoniano-Cartesiano, do qual o Universo é como se fosse um relógio, e Deus o Grande Relojoeiro que ajustou os ponteiros, e de que de tempos em tempos dá a corda, para que o relógio não pare de funcionar. Esta era e ainda é a metáfora Newtoniana de Ciência Determinista, na qual todas as causas do Universo, obedeceriam a leis estritamente rígidas e controladas que forneceriam todas as respostas, para os acontecimentos naturais. A Medicina Tradicional, é uma das Ciências que mais elevou este paradigma a sua raiz cubica, elevada a oitava potência, baseando-se na alopatia a causa para a cura de todas as doenças, e na substituição de órgãos defeituosos por próteses mecânicas e funcionais. Nada contra tal visão, afinal houveram grandes avanços significativos para a Humanidade, porém há uma grande preocupação com o tratamento da doença, de combate-la e não com o Individuo que está doente ou adoeceu. Esta é a diferença da visão de uma Medicina Ocidental da Oriental, nesta outra trata-se primeiro o doente, e não a doença, pois se entende de que o individuo doente é quem manifesta a doença, e que também é quem é capaz de curá-la. A medicina de Hipócrates, pai da Medicina Ocidental, também compartilhava desta crença e visão mais holística da doença e do humano. Não sou Médico, e portanto desconsiderando polêmicas a parte, que serviram apenas de reflexão, não se trata afinal de descaracterizarmos um sistema, sobre o outro, afirmando que um é melhor ou pior, apenas acredito que seria muito bom que ambas as visões tradicionalistas e de vanguarda estivem juntas lado a lado, como irmãs e complementares umas as outras. Não se pode entender as partes separando-as, pois a totalidade sempre será maior que a sua soma pura e simples. A idéia que ainda impera hoje, é que funcionamos e nos regulamos como máquinas, máquinas biológicas, temos o processo de homeostase das células, que geram o processo de equilíbrio para o organismo vivo, portanto manter tal processo de homeostase funcionando, é o predicado de uma industria automobilística por exemplo, manterem suas máquinas e robôs funcionando, em consonância com seu empregados na linha de produção. Na visão pós-moderna de homem, não sobra mais espaço, para enxergarmos uma outra natureza mais sutil, que se interliga e conecta todos os seres vivos, o homem e a natureza. O indígena, o antigo homem do campo, as vários tribos há muito perdidas que cultuavam os deuses e a natureza, sabiam disso, dessa interconexão aparentemente invisível, não vou dizer que tais povos, não tinham um outro lado obscuro, como o do sacrifício animal ou humano, para aplacar as supostas divindades dos elementos. Porém teorias como as de James Lovelock, parecem resgatar além do nome Gaia, antes ligado a Divindade da Terra, a idéia de um superorganismo vivo, capaz de se auto-regular. É como se pensássemos que dentro de nós temos outros organismos vivos, atuando em harmonia, como uma verdadeira sinfonia musical, temos vírus, bactérias, células que desempenham cada um ao seu modo um papel, sem que para isso tenhamos que estar conscientes de sua presença ou existência. Assim estaríamos todos atuando dentro de Gaia, seriamos como outros organismos dentro dela, talvez o papel que estamos fazendo neste momento não seja dos melhores, já que estamos mais para um vírus, do que para um anti-corpo por exemplo. Mas a grande questão que desejo chamar a atenção, é que somos todos sistemas vivos, atuando sobre outros sistemas e organismos, obedecemos a um ecossistema, que como diz o Chefe Seattle, “O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.” Com isso chegamos a reflexão de que a metáfora da “máquina humana” não pode ser verdadeira, pois isto implicaria que acaso o grande relógio do universo parasse de dar as horas, bastaria ao homem que lhe desse corda, ou troca-se uma das engrenagens, acertando-lhe os ponteiros, para que tudo volta-se ao normal, como sempre fora. Mas na natureza, as coisas não são bem assim, não adianta simplesmente pararmos de agredir o meio ambiente, muitas especies foram mortas, com a poluição, pesca e caça indiscriminatórias, predadores naturais desapareceram, ou seja todo o equilíbrio foi alterado, a homeostase de outrora, nunca mais será recuperada do mesmo modo como antes, nós também poluímos o nosso organismo e células, com tabaco, álcool, drogas, medicamentos, sedentarismo, stress, alimentação, hábitos de vida, pensamentos negativos. Este conjunto de fatores também provocam doenças, e mexem com o nosso ecossistema interno, se fossemos realmente uma máquina, bem deveríamos se não fossemos indestrutíveis, sermos mais resistentes do que o somos, não deveríamos nos desgastar com tanta facilidade, nem mesmo poderíamos envelhecer, talvez pudéssemos ser imortais, o sonho da atualidade da ciência, nos transformar em robôs, em seres autômatos e imortais. A vida em todo o seu explendor deve ser contemplada, admirada, vista como algo sagrado, que ocorre por razões que por maiores que sejam as explicações da ciência, nada mais são que teorias, e não a totalidade da verdade. A ciência é apenas mais um modo de explicar os fenômenos que observamos, e não o único modo de se aperceber da verdade, existem também os mitos, os ritos, os símbolos, as religiões, as metáforas e também por que não o próprio Observador que observa, criando e interagindo no seu mundo particular ou subjetivo como dirá a ciência, cujo método tenta por extirpá-lo e sacrifiá-lo em nome de uma pretensiosa neutralidade "não existente" de fato. É a partir do observado, de nossas experiências sensoriais, que o mundo como cada um de nós em seu intimo conhece, é que passa a ter forma, e propósito. O que é a realidade ? O que é a verdade ? O que é a vida ? Estas são perguntas inocentes, mas que abarcam dentro de si inúmeras respostas, ou verdades que são transmutadas através do tempo, gerações e eras. O melhor que podemos fazer é ir na contramão da ciência tradicional, e integrarmos o Sujeito que observa, do Objeto observado, um não vive sem o outro, o objeto só tem valor, porque antes de mais nada existe um Sujeito capaz de observá-lo e dizer de que o mesmo existe, e a partir do momento em que existimos, a vida passa a ter um significado, que antes não existia.

Se pudéssemos fazer uma pergunta a um robô no futuro, que imita-se o humano com perfeição, que de algum modo pode tomar consciência de sua existência, você sabe o que ele responderia ? Se pudesse ser alguém eu seria você !!! E o grande paradoxo, é que desejamos e nos caminhamos para sermos artificiais e não naturais, daquilo que nos faz justamente SER HUMANO, nossas emoções !!!

Namastê !


Pensamos demasiadamente

Sentimos muito pouco

Necessitamos mais de humildade

Que de máquinas.

Mais de bondade e ternura

Que de inteligência.

Sem isso, A vida se tornará violenta e

Tudo se perderá.

Charles Chaplin

Comentários

  1. Que ótimo post! Nos leva a refletir sobre o que estamos fazendo com nossa capacidade inexoral de ir além... criatividade, curiosidade, devem servir para nos tornar em pessoas melhores do que já somos... mais humanos!

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  2. Olá Prof. Francisco

    É sempre muito bom tê-lo por aqui com suas reflexões. A ciência tradicional, maximiza a razão, mas despreza outras faculdades humanas, que estão ligadas a subjetividade, como as que citou ligadas a caracteristicas mais artisticas que todo nós possuimos... ligadas as emoções que nos provocam quando estimuladas... a razão mata com a curiosidade natural de contenplarmos a natureza, de sermos criativos... trabalho com pessoas na area de RH, e o que mais ouço pessoas dizendo, é de que Grandes Corporações fazem e gastam os tufos de dinheiro, com processos seletivos, que no futuro não muito distante serão substituidos por testes clandestinos de DNA (proibidos pela bioética, que não fará nada na prática, em que o que vale é o capital), a fim de se dizer que temos o melhor "puro sangue" disponivel do mercado, para depois deixá-lo preso no celeiro, quando sua natureza fora feita para correr...

    Organizações e Ciência se parecem muito neste sentido, queremos o melhor, mas não deixamos que o outro faça o seu melhor, pois o melhor é que se faça apenass do seu jeito, e não do outro jeito que possa ser inovador. Desejamos manter o ocntrole, e não abrimos mão dele, esta é sem duvida uma verdade subjetiva da qual a ciência está impregnada, mas não admite, sempre fruto do Zietgeist de sua era !

    Na antiguidade, a ciência englobava filosofia, religião e arte, dissociamos tudo em nome da pseudo "neutralidade cientifica"... que aponta apenas para números, indices, tabelas, estatisticas... onde está a aquela verdadeira ciência das descobertas, da aventura, da paixão... talvez tenham adomercido... talves desperte novamente algum dia... o conhecimento não pode ser fragmentado, o todo e as partes são uma coisa só... não podemos obviamente estudar todo o conhecimento humano sozinhos, mas de forma transdisciplinar podemos correlacionar todo o conhceimento em equipes multisdisciplinares... é o unico modo de percebermos que a ciência não se pode fazer de modo isolado e por um homem só !!!

    Namastê !

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