A Igreja na América Latina

Caros Leitores do blog SAINDO DA MATRIX. Hoje estou estreiando e retribuindo o carinho com que fui  convidado a escrever e participar de tão precioso blog. Nesta semana onde o clima natalino se faz presente, nasce um novo sol na internet e no mundo dos blogueiros, que preocupados com as questões Sociais e Antropológicas dedicam um pouco de seu tempo compartilhando com todos os interessados, questões pertinentes e indispensáveis em relação aos seres humanos, enriquecendo o mundo internáutico.  Esse sol, é a parceria entre o RODRIGO, e eu. 
Eu sou AUSTRI JUNIOR, Teólogo e Pós-Graduando em Ciências da Religião. É com muito prazer e grande satisfação que aceitei o convite do RODRIGO para dividir esse espaço, e quero registrar aqui que realmente é uma honra muito grande e uma responsabilidade enorme, o que me deixa extremamente lisonjeado. 
O texto que vocês vão ler a seguir é uma resenha acadêmica que narra alguns aspéctos da  cultura teológica da Igreja Medieval no Brasil Colônia, e culmina na contemporâneidade da Teologia da Libertação. Por se tratar de uma resenha, o texto evidentemente não é um texto rico em detalhes, o que o livra de pormenores enfadonhos e o torna gostoso para a leitura. Embora eu seja suspeito em falar, pois além de ser o autror da resenha, sou apaixonado por história, e, principalmente pela história da Igreja.
Estou muito feliz com essa parceria, e quero informar para vocês que o RODRIGO se encontra - como Parceiro, Amigo, Companheiro, Membro e ESCRITOR no meu blog, o CIRCULO TEOLÓGICO, cujo objetivo não é engessar-se na teologia enfadonha e religiosa. Mas ocupar-se das questões Antopológicas , Históricas, Filosóficas, Científicas, Culturais, Políticas, Sociais...
Se você tem afinidades com essas questões, e com outras também, e se interessar em compratilhar as suas idéias e reflexões conosco, deixo aqui o convite a todos que também queiram ajudar fazendo eco  conosco. Entre em contato comigo em circuloteologico@hotmail.com.
BOA LEITURA!  
 ***

RESENHA
AUSTRI ROGRIGUES JUNIOR
ROSA, Wanderley Pereira da – PERCURSO TEOLÓGICO NA AMÉRICA
LATINA: ASPÉCTOS CULTURAIS – FUV, 2008. 31p.

INTRODUÇÃO
O autor retrata em sua abordagem, o percurso que a teologia medieval fez em terras Latino Americana em nome de conquistas supostamente para Deus, através do seu "representante legítimo", o papa, aqui representado pelos seus "soldados": padres, freis e bispos, que não mediram esforços quando os assuntos eram atrocidades e injustiças, bem como subjugo da fé dos povos ameríndios em nome de uma cultura, raça, fé, e religião "superiores". E para os reis de Espanha e Portugal, que como animais vampiros, sugaram não somente o sangue dos povos que aqui viviam, mas todo ouro e riqueza – embora as maiores riquezas "sugadas", tenham sido a vida e a dignidade dessas pessoas.
Wanderley Rosa analisa os aspectos culturais da época, e os fatores que motivaram os vários tipos de "extermínios" na América Latina como um todo, e nas terras TUPINIQUIN, conhecida como BRASIL. Extermínio que os invasores denominaram: DESCOBRIMENTO.
Analisa também o contexto histórico colonial e escravocrata e o quadro que se desenhou no país com a chegada do protestantismo de imigração e de missão no Brasil. Aprofundando os elementos históricos, Wanderley Rosa faz uma abordagem interessante sobre os movimentos pentecostais e neo-pentecostais onde surgem perguntas sobre a identidade do cristão brasileiro, e encerra o seu ensaio com uma abordagem – embora muito sucinta – que ele próprio reconhece, não poderia faltar em um labor teológico sério que se dispõe a discutir teologia na América Latina e no Brasil, que é a TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO.

ABORDAGENS GERAIS
Em seu ensaio Wanderley Rosa afirma que "a expansão geográfica e colonial européia" empreendida na América Latina por reis de Espanha e Portugal, e não somente esses, pois por aqui também passaram os Holandeses e também os Franceses, "além do forte apelo mercantil" caracterizou-se "como um projeto de dominação cultural e espiritual".
A principal estratégia foi "a demonização da religião do outro". Em suas empreitadas pelas conquistas a que se dispusera, "o europeu hispano-lusitano tem sua consciência limpa", afirma o autor; "pois, sua cruzada é contra as hostes do inferno". De conquista em conquista, os europeus civilizados, seguiram destruindo e subjugando as vidas e as religiões dos povos ameríndios por eles definidas como satânicas.
O choque cultural foi imenso. O europeu que possuía o domínio tecnológico do aço subjugou militarmente os ameríndios. Em função dessa superioridade, "supõe-se a superioridade em todos os outros aspectos: superioridade na organização social e política, no âmbito familiar, superioridade ético-moral, superioridade lingüística, superioridade religiosa, superioridade moral".
Ao analisar as colocações do autor – que é muito claro em seu ensaio – podemos visualizar o quadro sócio-cultural-religioso da época. Em nome de uma superioridade que na imaginação dos invasores era algo concedido diretamente por Deus, aldeias inteiras foram dizimadas, as mulheres eram pegas para si e ou abusadas, homens e crianças escravizados, seus costumes foram desprezados, e, nos povos foram incutida a idéia de "pecado", por andarem nus. Foram obrigados a abandonar as suas religiões: ritos e cultos, sob pena de serem mortos, por serem filhos do demônio. Foram obrigados a vestirem roupas, debochavam de sua hospitalidade, e, desprezavam a sua cultura. "Era como se o outro não existisse. Não havia história escrita. Não havia uma linguagem grafada, ‘não usam letras’".
Esse processo de colonização e subjugação dos povos ameríndios teve nome: REDUÇÃO. Nas reduções os povos eram colocados em assentamentos segundo a vontade dos dominadores. Mas houve resistência e luta o que derramou mais sangue.
"As reduções são essencialmente projetos colonialistas e, como tais, violentos de algum modo. Os povos ameríndios e, posteriormente os negros, são obrigados a abandonar seus antigos deuses e abraçar a fé cristã. Mas não fazem isso sem resistência. Assim, os missionários (e a própria religião católica, pelo menos o catolicismo que vai se instalar na América Latina) acabam sofrendo também a sutil influência da religiosidade nativa".
Não é necessário dizer que o resultado de tudo isso ainda é nítido em nossos dias. Embora muitos historiadores rejeitem a idéia de que a história se repete, podemos dizer sem medo de errar, que, a história se reproduz.
"A conquista da hegemonia marítima pela Inglaterra e a vinda da família real portuguesa para o Brasil em 1808 (fugidos das manobras de guerras e as ameaças de invasão a Portugal por parte do imperador francês Napoleão Bonaparte), deram inicio a uma radical mudança no cenário religioso brasileiro".
Fatos importantíssimos aconteceram, dando origem ao protestantismo de imigração e de missão em terras brasileiras. Foram trazidos para o país famílias para trabalhar na indústria e na lavoura. Com a "eugenia", tentativa (inútil, diga-se de passagem) de branquear a raça, D. Pedro II trouxe para o Brasil os imigrantes europeus, entre eles os alemães, que consigo trouxeram o luteranismo.
Após esses e outros fatos estabeleceram-se no país os missionários estrangeiros que trouxeram a sua fé para evangelizar o Brasil; nação pagã, uma vez que o "catolicismo não era cristão". Foram eles:
- Os Anglicanos;
- Os Congregacionistas;
- Os Presbiterianos;
- Os metodistas
- Os Batistas.
Mais tarde o retrato religioso no Brasil toma nova forma. Surge o movimento pentecostal, e, posteriormente, o movimento neo-pentecostal; que muda o quadro da espiritualidade do povo brasileiro que já não se satisfaz mais com os ritos e cultos tradicionais do protestantismo histórico.
O movimento pentecostal trás uma nova mensagem: "a conversão". Mas, continua "demonizando" a religião do outro, enquanto que a mensagem neo-pentecostal é a "teologia da prosperidade".
Entre as décadas de 1950 e 1960 surge no cenário teológico latino americano e brasileiro a teologia da libertação que "brota da reflexão de intelectuais latino-americanos que estavam por assim dizer, com um dos olhos postos na mensagem dos evangelhos e o outro na realidade sócio-econômica do povo pobre e oprimido".

CONCLUSÃO
A teologia da libertação trouxe consigo a opção pelos pobres e oprimidos, a defesa das questões sociais na América Latina e em especial no Brasil. Colocou de lado o ascetismo exacerbado buscando um olhar mais apurado para as coisas da terra, ou seja, o equilíbrio espiritual. Andou de braços dados com a pastoral da terra, movimento social da igreja católica – que em nossa introdução era a grande vilã, e, que aqui em nossa conclusão aparece com outra "cara"; porém passou-se 509 anos de histórias (histórias no plural, porque estamos tratando da História da Igreja na América Latina) – que deu origem ao MOVIMENTO SEM TERRA, o MST. É bom que fique registrado aqui, que, a teologia da libertação não é exclusividade da igreja católica romana. Há uma ala do protestantismo que trilha por esse caminho (nos incluímos nesse contexto). Aliás, a TEOLOGIA da LIBERTAÇÃO inspirou-se no EVANGELHO SOCIAL dos Estados Unidos da América, e no EVANGELHO POLÍTICO da Alemanha (que também adotamos em nossa caminhada teológica). A teologia da libertação também caminha intimamente com a PEDAGOGIA do OPRIMIDO, cujo mentor é o professor Paulo Freire (a pedagogia do oprimido é o nosso foco enquanto educador, pois é excelente fonte de cognição e alteridade).
Em nosso entendimento, entre tantas contribuições que a teologia da libertação trouxe para o contexto sócio-político-religioso latino-americano e brasileiro, foi a abertura ao PLURALISMO RELIGIOSO e ao DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO, que sem dúvida, é muito enriquecedora e extremamente LIBERTÁRIA, embora esse assunto preocupe a muitas pessoas.
Após tantos anos de sujeição, prisão e opressão política e religiosa, a AMÉRICA LATINA precisa de uma teologia que liberte a igreja corpo de Cristo. Nós enquanto teologandos investimos no ECUMENISMO, no PLURALISMO RELIGIOSO, e no DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO (nossos objetos de estudos e monografia do curso de pós-graduação em Ciências da Religião, da Faculdade Unida de Vitória – FUV), e na TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO, como fonte de RE-FLEXÃO e RE-SIGUINIFICAÇÃO da IGREJA NA AMÉRICA LATINA.

Comentários

  1. Austri, adorei... é um excelente post e muito alinhado com o propósito deste blog. Se conecta ao post “Guerra e Paz” no Circulo Teológico, onde cito superficialmente sobre o verdadeiro povo “brasileiro”. Na Amazônia, existem inúmeras ONG´s principalmente de cunho evangelizador, com o objetivo de “cristianizar” estes povos. Apesar das “boas intenções” de algumas ONG´s o que vemos em grande parte é uma “neo-catequização”, comungar não significa tornar a sua tradição a principal, e a do outro secundária, ou mesmo anulá-la. Comungar é compartilhar da sua sabedoria, com a do outro, sob uma visão ampliada percebem-se as semelhanças que os unifica. Li recentemente um artigo que trata do inicio de uma filosofia brasileira, cujo discurso se mistura ao Direito, e ocorre nos idos dos Séc XVIII e XIX, debatendo questões a respeito de o Índio possuir uma Alma e o Direito sobre si mesmo. Resultante de movimentos ligados Pós Renascimento, Revolução Francesa, inicio da Revolução Industrial e Movimentos Abolicionistas. Como bem citado, no período do descobrimento e dominação portuguesa e espanhola, Índios eram considerados animais e como tal “selvagens”, permitindo matá-los, saqueá-los e torturá-los sem motivo algum, o que não seria crime. A Filosofia Brasileira nasce de certa forma, na premissa de Aristóteles, no comentário que um povo e cultura cuja força fosse superior, acabaria por subjugar e dominar outros povos. Posteriormente, este pensamento foi questionado como não tratar-se de uma apologia favorável ao escravagismo e sim de que se considerara-se a ética envolvida em proteção dos mais “fracos”. Iniciando o diálogo sobre a soberania do Indígena sobre si próprio, seu corpo, cultura e religião. Promovendo avanços para “protege-lo”, como se tal povo não fosse humano desde a sua origem, e necessita-se de um documento escrito por autoridades estrangeiras, que ratificassem tal estado e natureza de Ser. Uma Teologia da e para a Libertação é imprescindível, e se encaixa nesta proposta, pois tal Teologia congrega dentro de si, os valores cristãos essenciais, se não até universais, percebido em outras tradição como a Compaixão pelo Humano. Com Leonardo Boff grande expoente do movimento, a Compaixão e Ethos no Cuidado com o Humano e a Terra, passou a inserir uma visão Ecológica, além de Humanista e Holística. Realmente notei semelhanças significativas entre Paulo Freire e a Teologia da Libertação, só não sabia que o mesmo esteve ligado a este movimento. Recordo-me do pensamento em que diz, que toda a sua pedagogia se baseava em reconhecermos a ler a nossa própria palavra, que imita a palavra Divina e Criadora. Assim como a sua concepção bancária de educação, cujo educar tradicional realiza “depósitos” em seus educandos, reproduzindo palavras que não eram suas. Oportuno e pertinente o seu post, pois dentro de uma proposta Transdisciplinar, a verdadeira Ciência não se faz isolada, mas da reunião de pessoas de áreas e conhecimentos diferentes, com propósitos em comum. Reunindo um saber, até então fragmentado pelas várias áreas de especialidades da Ciência, integrando-as novamente, e indo além por conta do sufixo “trans”, sem contudo criar uma nova ciência. Ao final tal propósito é semelhante ao da religião em sua essência, do latim “religare” para o religar, ou seja conectar, unir e integrar. Parabéns por sua estréia, adorei e tenho certeza de que os leitores do blog também gostaram, principalmente por seus conhecimento mais profundo acerca da religião e religiões...

    Seja muito bem vindo meu amigo...

    Namastê !

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  2. Bom dia Rodrigo!
    muito obrigado pelas boas vindas, e fico muito feliz por você ter gostado do post, e por ele estar afinado com as propostas do seu blog. Realmente notei a semelhança entre a minha resenha e a sua reflexão em "GUERRA E PAZ" - que amei e me impressionou pela qualidade e sensibilidade.

    A mesma coisa que os colonizadores fizeram com os índios, também fizeram com os negros, afirmando que eles não possuíam alma. Era o passaporte para torturar, maltratar e matar "sem culpa" como você comentou aqui. Mas o pior de tudo isso é que estas ações são frutos de uma hermenêutica bíblica literal, maldosa, manipulada ou no minimo ignorante no sentido literal da palavra. Na bíblia (Antigo Testamento) a escravatura não era contestada, muito pelo contrário era incentivada, por conta do contexto sócio-cultural da época. Isso não muda nem no NT. Portanto, Nativos colonizados eram seres inferiores e podiam ser manipulados de acordo com o bel prazer do "homem superior", desde os primórdios da humanidade.

    Quanto ao Freire: sim, a sua "Pedagogia do Oprimido" é irmã da "Teologia da Libertação" e andam muito juntas, com um envolvimento pessoal do Grande e Amado Mestre Pedagogo. Aliás, LIBERTAÇÃO TEM TUDO HAVER COM OPRIMIDO. E você tem razão em seu comentário, a humanidade precisa de uma Teologia da ou para a Libertação, como forma de compaixão. Por isso o slogan que "criei" para a minha caminhada e aprendizagem Teológica é: "TEOLOGIZAR PARA LIBERTAR". Não é nada novo (por isso está entre aspas), estou parafraseando o Mestre Paulo Freire que diz: "EDUCAR PARA LIBERTAR"!

    Rodrigo, estou amando essa parceria!
    NAMASTÊ!

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