ALFABETO DA MENTE: À ARTE DE LER O INCONSCIENTE 

por Rodrigo Wentzcovitch
A maior das invenções humanas sem duvida alguma foram as letras, o alfabeto que nos permitiu registrar o conhecimento e legá-lo as gerações seguintes, que não precisariam mais recomeçarem do zero, tal qual os outros animais. De gestos a grunhidos, das letras às palavras, deve ter sido uma revolução e tanto nisso que começou como arte sem dúvida, a primeira e sagrada experiência que nos distanciou de todo o reino animal do qual somos parte. Relatamos acontecimentos que apesar de passados, se faziam presentes novamente como magia, um mantra que recitávamos das aventuras dos nossos ancestrais, que assim como as grandes caçadas e expedições a terras distantes, ficaram eternizadas em pedra primeiramente, para evoluírem ao papel e agora estão literalmente escritos nas nuvens, como a revolução tecnológica proclamou aos quatro ventos por todo o mundo. 
Onde entra a mente em tudo isso? 
Bem eis que a mente entra nisso tudo, está em toda parte dentro e fora de nós! Eu explico... somente uma revolução como a mente que atingiu autoconsciência e se interroga tanto do mundo, quanto de seu papel nele, é que poderia ser capaz deste feito, a linguagem e partir dela a criação de um alfabeto, pelo qual a tecnologia da escrita fora ensinada, e todos por ela “falaram” e então compreenderam. A linguagem então quando escrita é um processo realizado pela mente que o exterioriza, que cria e materializa a palavra falada, assim como é a mente num processo interno que reflete na linguagem por um alfabeto que todos entendem o que se passa dentro de si, emoções, histórias e aprendizados mil, que são imortalizados, um fóssil vivido de uma época e cultura pela qual é formada, ao mesmo tempo em que é agente formador.
Odin, Deus Nórdico dos Povos Germânicos e Vikings, sacrificara um olho em troca de sabedoria, não qualquer conhecimento, mas na verdade uma tecnologia: as runas, um alfabeto pelo qual podíamos descobrir os desígnios do Universo. O Adivinho ou Sacerdote era aquele que sabia ler e interpretar tais desígnios a partir das letras deste alfabeto mágico, e dar respostas ao angustiado consulente. 
O homem pré-histórico era envolto num mistério, em magia, ele decorava cavernas com afrescos que antecediam as caçadas, pintando “o futuro”. Um salto no tempo, Século XXI e a Ciência em suas diversas matérias de estudo tenta o mesmo, prever o futuro, dar respostas a intrigantes perguntas, como que tentando orientar nossa Jornada pelo Mundo. 
Na minha Ciência, a Psicologia, também criamos um Alfabeto “Mágico” como as Runas, que tenta desvendar a linguagem inconsciente, que pode ser mítica, onírica, simbólica ou mesmo mística (no sentido de mistério), que tem por objetivo ajudar como nos tempos antigos, auxiliar o consulente (paciente ou cliente) a (re)encontrar o melhor caminho a se seguir pelos mapas no território “desconhecido” (ou inconsciente) da vida. 
Cada ciência criou o seu próprio alfabeto e comunicou seus iniciados, assim como era com os antigos escribas e sacerdotes que dominavam a arte da leitura e escrita, a como manusearem tal alfabeto. 
Me parece que para um Engenheiro faz sentido os números para tudo calcular em uma sólida construção, mas em se tratando do Alfabeto da Mente, não faria sentido algum nos comunicarmos por números. Não! É preciso, na verdade, uma linguagem como aquela pictórica das cavernas, que se traduziam num misto de arte, espanto e magia, que comungava com as nossas emoções mais profundas. 
O Alfabeto da Mente é sem duvida uma linguagem tão iniciática, quanto as runas o são para quem delas seu uso faz. É preciso “comunicar” esta ciência, assim como as outras, que só pode ser entendida, aceita e valorizada, ao nos embrenharmos pelos meandros de seu Alfabeto que deixa de ser Hermético, isto é, fechado, quando nos dispomos aprender a ler a mente!
 “Suspenso na Árvore assolada pelo vento,

Durante nove dias e nove noites fiquei.
Trespassado por uma lança, uma oferenda para Odin,
Eu mesmo me sacrificando e oferecendo-me a mim.
Amarrado e suspenso estive naquela Árvore,
Cujas raízes têm uma origem desconhecida aos homens.
Ninguém me deu pão para comer,
Ninguém me deu algo para beber.
Ao espreitar as profundezas abaixo de mim,
Agarrei avidamente as runas,
E apossei-me delas, dando um grito feroz.
Depois caí perdendo os sentidos.
(...)
Bem-estar eu alcancei com as runas, sabedoria também.
Amadureci e alegrei-me com meu amadurecimento.
Cada palavra conduziu-me a novas palavras,
Cada ato proporcionou-me novos atos e escolhas.”


“Havamal”, estrofes 138 e 139 – Edda Poética

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