Caos e Cosmos


No inicio era o Caos, e nesta época quem reinava sob a Terra eram os gigantes Titãs, anteriores aos Deuses e tão antigos quanto o Cosmos, representavam as forças furiosas e sem controle da natureza, como vulcões em erupção, terremotos, maremotos, furacões e etc... O primeiro Titã a tentar colocar ordem na casa foi Cronos, o poderoso filho da união do Céu com a Terra ou respectivamente Urano e Gaia. Urano não gostava muito de suas criações, seus filhos obtidos da união com Gaia, eram sempre rejeitados e devolvidos para a Mãe. Gaia infeliz com a situação por sua vez pede aos filhos que o castrem, impedindo Urano de produzir mais filhos. Apenas Cronos que se tornaria o Rei dos Titãs, concorda e munido de seu foice castra o próprio Pai, que nunca mais poderia gerar outros filhos (do órgão mutilado que cai ao mar nasce Afrodite a deusa da beleza e do amor). Cronos implacável ao torna-se o Rei dos Titãs, inicia a tentativa de colocar ordem ao Caos presente, controlando seus outros irmãos  não muito estáveis... Os Gigantes Titãs. O cenário estava pronto para que toda a vida na Terra pudesse aflorar... através da gênese mitologica...

Com a recordação martelando em sua cabeça, de provocar a mutilação e posterior queda do Pai Urano. Cronos temia que o mesmo destino pude-se abater-se sobre si, e numa atitude desesperada, toma a decisão de engolir os filhos vivos, sempre que um novo nascia. O que é claro gerou um grande descontetamento na sua esposa Réia, que a exemplo da Mãe Gaia, repete a mesma conduta, e bola um plano para derrubar Cronos, que construiu fama de implacável, como o tempo que devora todos sem piedade. Réia oferece uma rocha embrulhada a Cronos, como se fosse um de seus filhos, ele rapidamente a engole e não desconfia que foi enganado... mais uma vez a história se repetiria e um Deus despencaria dos Céus.

Seu nome era Zeus, o filho que escapou de ser engolido... era o mais novo dentre os seis filhos de Cronos, cujos irmãos ainda vivem dentro do Pai. Quando Zeus cresce, a pedido da sua Mãe resolve enfrentar o Pai e salvar os outros irmãos Hera, Hestia, Demeter, Posídon e Hades, que posteriormente se tornarão os principais Deuses do Olimpo, a Terceira Geração de Deuses, ou a Idade de Ouro dos Deuses, também conhecidos como os primeiros Olimpianos. Zeus consegue libertar os irmãos, e com a ajuda deles consegue prender o Pai no Tártaro no mundo Subterrâneo, se tornando após uma batalha épica contra outros Titãs, o Senhor do Olimpo, e Rei de todos os Deuses, banindo todos os Titãs para junto do Pai.  Os contecimentos naturais na Terra, eram explicados como sendo a fúria dos Titãs aprisionados no interior da Terra, que de vez em quando tentavam fugir, mas eram domados outra vez por Zeus.

Pense quando era uma criança como imaginava Deus ou o Papai do Céu em sua intimidade com o Todo Poderoso? Talvez um forte e simpático Sr. de barba e cabelos brancos, que via e sabia de tudo, sentado em um trono dourado em meio as nuvens do céu, com raios entre as mãos para fuminar os maus e injustos desta terra. É exatamente esta imagem arquetipica, uma herança de Zeus (presente no inconsciente coletivo), e que inspirou até mesmo os afrescos da Capela Sistina com os devidos disfarces é claro. O fascinante nestes mitos sob a luz da psicologia, são os padrões de comportamento que se repetem, sempre há na vida do futuro Herói a presença de uma profecia, que provoca medo e arrepios no Soberano local. Este ultimo por sua vez tentará exilar ou matar o futuro Herói enquanto ele ainda é uma criança indefesa, na tentativa de evitar que a profecia se realize e ele caia, veja o exemplo de narrativas como as de Perseu, Édipo, Jasão e outros heróis que retornam a sua terra natal para reclamarem o que é seu por direito.

O mais interessante é presenciamos estas mesmas histórias aconteçendo em nossas vidas e em histórias de culturas completemente diferentes. Há duas personalidades que marcaram profundamente a nossa tradição judaico-cristã, que são citadas no antigo e novo testamento, e que podemos muito bem as considerarem como heróis. Vejamos então... Moisés e Cristo quando eram crianças foram ameaçados por Soberanos locais (devido a profecias que anunciavam a sua chegada e que ameaçariam o poder vigente), de certo modo em ambos os casos... estes Heróis ao crescerem provocaram uma verdadeira revolução... na autoridade que os Soberanos da sua época mantinham sobre o povo a mão de ferro. Aliás o fato de Moisés ter sido colocado em um cesto no Rio Nilo por sua Mãe que o lançou a sorte a fim de evitar a sua morte, remete há algumas coincidências com o próprio mito de Osiris, que também chega a ser colocado em um cesto, talvez até pelo mito, a sua adoção tenha sido facilitada pela familia do faraó (que poderiam ter visto na ocasião o sinal dos deuses). O faráo cuja familia adotou Moisés era o responsável por ordenar a morte de todas as crianças dos hebreus, menos uma que escapou... e que chegou de forma pouco usual... fazendo com que fosse poupada... afinal se fosse um presente dos deuses... eles não iriam querer vê-los descontentes...  Moisés ao tornar-se Herói libertou o seu povo do julgo egipcio... e atuou como o legislador do cumprimento dos 10 mandamento...

Mas não estou aqui discutindo religião, apenas traçando algumas reflexões paralelas entre a história e o mito. A quem diga que não há provas concretas da existência de Moisés ou Cristo (ambos nascem sob circunstâncias e eventos importantes... e se tornam portadores de uma revelação ou iluminação), o que sabemos sobre os mitos, é que sempre houve algo de real por de trás das lendas. Como cidades miticas descobertas após escavações como as de Tróia e Minos até então consideradas apenas lenda... Mitos eram uma forma hábill de transmitir histórias simbólicas, que sempre tinham uma moral subjacente como advertencia a Sociedade para certos tabus, costumes e proibições (como incesto, canibalismo, infanticidio e parricidio). Numa Sociedade onde a escrita era rudimentar ou quase inexistente, a tradição oral reinava, transformando acontecimentos reais e históricos, em lendas vivas ao envolverem em sua trama elementos do fantástico e fantasia, cujas histórias eram reverenciadas... cheias de glória e dramas... como o são em filmes e novelas... é até capaz que se desconfiasse destas tramas como nós desconfiamos de roteiros modernos cheios de pirotecnias que fogem ao bom senso... porém existe o aspecto da arte... e tais tramas eram mais facilmente assimiladas do que simplesmente traçarmos leis... ou realizarmos algum tipo de disucros moral ou puritano... fica a escolha para cada um...  histórias sempre mexeram conosco... e talvez oa antigos também soubessem disso... facilitando muito mais o processo de disseminação da cultura e leis através destes fascinio, pelos bardos e epopéias de homens, heróis e deuses.

Mas retomando onde paramos... parece que o  fato de acreditarmos em uma profecia e tentarmos evitar que ela ocorra, é o que justamente gera o efeito contrário desejado... chamadas de profecias auto-realizadoras. A lenda envolta do nascimento do Buda histórico é um belo exemplo de como estas profecias auto-realizadoras ocorrem... Há milênios atrás uma profecia marcaria profundamente o nascimento de um Principe Indiano chamado Sidarta Gautama...  a lenda começa quando Sidarta nasce em um profeta que por lá perambulava... diz ao poderoso Rei e Pai de Sidarta, que seu amado filho se tornaria um grande e sábio Rei, ou um Asceta da Floresta. O Rei preocupado trata então de esconder do filho todos os problemas e preocupações que permeiam a nossa vida, com medo de vê-lo tornar-se um asceta. Esta era provavelmente uma imagem que não saia da cabeça do Rei e o atormentava dia e noite, passando ao contrário do que devia, a esconder as mazelas e infortunios que todos carregamos, mas que de modo algum deveriam ser descobertas pelo Principe Sidarta. Certo dia porém... em segredo o Principe consegue sair do palácio e se depara com a infelicidade, a velhice e a morte, ficando extremamente incomodado com o propósito de vivermos assim... ficou incomodado sem saber qual o proposito da vida e sua impermanência... Seria após esta experiência que posteriormente o Jovem Principe sairia definitivamente do palácio, buscando respostas e encontrando a Iluminação e o Caminho para a felicidade e secessão do Sofrimento nesta vida (e não após a morte quando muitos são punidos ou premiados conforme a sua conduta terrena - tema este recorrente em várias tradições da humanidade). Até então o comportamento do Rei era cercar o Jovem Principe de frivolidades, de belezas e pessoas jovens, de uma vida repleta de riquezas e jóias, que poucos podiam sonhar como seriam tamanha fortuna... Porém o Principe tinha tudo... algo lhe faltava... a mais valiosa das jóias... a "liberdade". Movido pela curiosidade e tabu em encontrar o mundo fora dos muros do palácio que o cercava... pode pela primeira vez reconhecer como era a verdadeira vida... levando-a a uma "profunda desilusão" que culminam na recorrente "Iluminação do Herói" presentes nas diversas lendas de povos, culturas e epócas diferentes.

Talvez a pergunsta seria... E se o Rei o tivesse criado e educado como uma pessoa normal, ito teria acontecido ? Bem não sabemos o desfecho desta outra história... mas acredito que o poder em uma profecia não está na profecia... e sim o de a levarmos muito a sério... e de algum modo nos moldarmos a ela... tentando evitá-la... ao invés de agirmos naturalmente...

Será que se tratássemos bem o Herói desde o inicio, como uma pessoa normal, será que a profecia aconteceria ? Se o Faraó e depois Herodes não tivessem dado a ordem de matar todas as crianças, será que a oportunidade do Herói existir teria de fato acontecido ? O medo de todo Soberano, não estaria talvez no fato de que ele mesmo chegou ao poder por meios não convencionais ou truculentos ? Que se ele mesmo fez isso outros poderiam pensar em fazer o mesmo, ameaçando seu poder e soberania ? Pois este é o problema do Mal para a Consciência. Não é necessário um agente externo ou divindade a nos punir... se pensarmos em Sócrates (o famoso parteiro das idéias)... ele não acreditava no mal... mas em ausência do bem... motivada pela ignorância... ou falta de consciência... pois para Sócrates ao tomarmos consciência da vantagem de fazermos o bem... não nos inclinariamos mais ao mal...

Alguns podem se perguntar se não há pessoas no mundo que não são ignorantes e fazem o mal deliberadamente... como em casos em que o assassino reconhece a sua conduta como algo reprovável... e excluindo as possbilidades de doença mental... o faz mesmo assim... por prazer... como um esporte ou caça...  bem diante disto... talvez o que se possa argumentar... é em favor das lições inerentes as profecias... quem faz o mal concientemente acaba como os Soberanos dos mitos... atormentado pela Profecia de que chegará o dia... de um conhecido ou desconhecido que lhe tomará o poder... que ao final o seu destino se somará ao destino comum de todos os deuses... a sua queda... não há como se escapar do mais implacável do Juizes... a própria Consciência...
Não seriam talvez todas as guerras, motivadas por razões semelhantes a estas como o medo, a ganancia e a vingança... a possivel falta acaba gerando o medo, e o medo de que algo falte... gera a ganancia em acumularmos para não faltar... e a vingança existe que ao acumalarmos tiramos algo de alguém... e este alguém não satisfeito como o que lhe foi tirado... reagirá pela falta provocada... e assim o ciclo se fecha e se repete por gerações... como na linhagem divina ou real... sempre esperando pelo próximo usurpador... pois ele próprio também o era... Só que todos nós desejamos afastar o cálice da dor e do medo, e o modo mais primitivo de como lidamos com o medo, é o personificando através de objetos, pessoas, grupos ou nações, que desejamos nos livrar... na ansia de acabar com o medo... elegemo o famoso "bode expiatório", que expia todo o mal por nós... com suas raízes nos sacrifícios animais, a fim de aplacarem a ira dos deuses. Aliás a própria aliança com Deus... a Crucificação não seria o modo pelo qual expiamos os nossos pecados... é apenas algo para se refletir em termos mitológicos... Ainda bem que hoje na vida moderna... as coisas ficaram mais "civilizadas"... bastando confrontarmos a nossa própria sombra no heróico caminho de inviduação.

Enquanto houver medo no mundo, sempre existirão Heróis, portadores do "Fogo Sagrado", para afastarem as nossas "trevas" interiores, pois um combate de proporções épicas é travado no cotidiano de nossas consciências todos os dias... pois basta apenas realizarmos um experimento prático e simples... sair por ai de carro para reconhecer a nossa porção "sombria e primitiva" de guerreiros modernoa... ainda bem que nos momentos mais dificeis... podemos contar com os nossos heróis interiores personificando na razão... pois em tempos menos civilizados do que este a espada era a lei... ou para alguns hoje... a "bala"... rs... O bom é saber que as trevas e o caos existem no cosmos e em nós (já que o cosmos também vive em nós em quanto parte do micro), e representam apenas a ausência da luz. Quando éramos crianças... tinhamos medos dos monstros que viviam em nosso armário, porão ou sotão de casa... sob a luz da razão... ascendiamos o interruptor do botão da luz... que sempre nos mostrava a verdade... estávamos tomando sombras por realidade... e desde então nunca mais nos separamos da luz... ao vistarmos locais sombrios... passamos a portar algum tipo de luz conosco... e istos é de proporções épicas pois os nossos ancestrais já faziam isso nas cavernas... Nossos medos sempre estiveram na escuridão da alma... mas a escuridão nada mais faz do que refletir a nossa própria luz...

Cronos só pode ceifar o precioso tempo de nossas vidas, se a exemplo das profecias, creditarmos a ele este poder. Os deuses afinal precisavam das preces dos homens para alimentarem a sua imortalidade, sem os homens não haveriam deuses a serem reverenciados, aliás como foram criados a nossa imagem e semelhança, eles disputavam entre si a nossa atenção. Sendo assim o medo e o caos só existem quando o alimentamos.

Mas sem medo não há monstros... e sem monstros não há caos... e sem caos não há heróis... e sem heróis não há jornadas... e sem as jornadas a vida seria um lugar manso e tranqüilo que nem daria vontade de conhecer... é como na primeira experiência da Matrix... rebanhos humanos inteiros pereceram... pereceram porque nesta dimensão a paz só é possível imersa em Caos... que o Cosmos é uma totalidade de um Caos organizado... que através do famoso primeiro motor Aristotélico... como nas complexas trigonometrias matemáticas envolvidas nos jogos de sinucas... se.. Deu(s) a primeira jogada... e as bolas se chocaram umas com as outras e continuam a se chocar até hoje... o caos ordenado e calculado se intalou... e aqui estamos nós agora... a chocar-se uns com os outros... sem saber ao certo em que caçapa iremos parar...

Se somos todos deuses e heróis, então estamos construindo o mundo que desejamos... nada diferente disto... enquanto houver ego... haverá desafios a nos alimentar... a paz se encontra na justaposição das forças opostas... no meio e no equilíbrio... na justa medida... no hábito da virtude que rejeita a falta, os escessos e os vicios como dizem os filósofos da antiguidade... Herói então... é aquele capaz de individuar-se em meio a todo o caos... e confusão... sem com tudo tornar-se egocêncentrico (no excesso)... individualista (no vicio)... ou esquizofrenico (na falta - ao perder a identidade central e fragmentar-se em vários eus)  encontrando felicidade e paz em meio ao caos da unidade... ao mesmo tempo em que nos encontramos com a dualidade da existência... pois nem os deuses... a conquistaram definitivamente... sendo derrotados por não serem capazes de integrarem suas Sombras... porém a nós Homens e Mulheres... nos é dada a maior arma mágica de todas... "O Fogo Sagrado" chamado na modernidade de "O Poder da Escolha Pessoal"...
É exatamente este o grande desafio de cada Herói ou Heroína Interior... utilizar da sua "arma mágica" para cultivar as virtudes e sua própria "luz e paz interior"... reestabelendo-se como o Soberano ou Soberana do reino mágico e distante... mantendo a salvo o "fogo sagrado" dos Sombrios Demônios Interiores... que tentarão a todo custo apagá-lo... para o reino novamente ser dominado e controlado... mas o "fogo sagrado" hoje pertence aos homens e não mais aos deuses... desde que Prometeu os ensinou aos homens... os ultimos passaram a se tornar independentes dos deuses... e não mais terem seus destinos controlados... agora temos ao nosso lado "o poder da escolha" da escolha pessoal de reagir de modo diferente... e não cometer os mesmos erros do passado... podemos todos viver como uma grande familia... integrando todas as divindades ou vontades existentens... sem que nos percamos neste "hérculeo e heróico trabalho"... pois afinal já são vários os paraisos perdidos que acumulamos através dos tempos... a iniciar o primeiro deles... com o nascimento...

Façamos todos um bom uso desta centelha divina criadora... que nos inspira e anima... a fim de não cairmos diante dos titãs do medo e do caos !!!

“O homem que evita e teme a tudo, não enfrenta coisa alguma, torna-se um covarde.” Aristóteles.

Pax e Lux !

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