Cultivar ou Cativar eis a Questão ?

Trecho extraído do livro: O Pequeno Príncipe de Antoine Saint-Exupéry

"E voltou, então, à raposa:

- Adeus, disse ele...

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar."

Pensamentos & Reflexões

Hoje recebi o texto acima de uma grande amiga a "Márcia" que conheci em um workshop sobre Psicologia Transpessoal há quase dois anos atrás. Recebi este trecho do “Pequeno Príncipe” em comemoração ao dia do amigo, que me inspirou a escrever o post que segue logo abaixo...

O que é verdadeiramente essencial para nós ? Gostamos e desejamos muitas coisas... de certo temos a tendência em acreditar que muitos são os objetos essenciais que precisamos ter ou possuir... Mas e quanto as pessoas ? Pessoas podem ser possuídas ? Bem... também desejamos tê-las ou possuí-las... mas diferentemente de objetos pessoas até podem ser possuídas a força... mas seus corações... nunca o teremos deste modo... E por quê ? porque pessoas tem vontades próprias... porque precisamos aprender a aceitar o outro, suas escolhas e também diferenças... aprendendo a cativá-las... é engraçado que na história do Pequeno Príncipe... o Alienígena protagonista do Conto... apesar de ser um Alienígena é mais Humano que os Humanos da Terra... e tem um carinho especial pela única Rosa do seu pequeno Planeta... a quem cultiva com amor e dedicação... a resguardando sob uma redoma de vidro a fim de protegê-la... é engraçado como a palavra “cultivar”... que significa preparar a terra, semear e plantar... guarde ressonância e semelhança com a palavra “cativar” cuja definição reserva uma certa ambigüidade...  tais como: “prender ou acorrentar” e “ganhar a simpatia”... quando comecei a pensar e refletir sobre estes significados... vi quanta riqueza em uma história que li quando criança... que a principio está direcionada para o público infantil... ledo engano de minha parte... pois esta é certamente apena a superficie que uma leitura desavisada é capaz de tocar... o conto do Pequeno Principe é mais rico e mais adulto do que de fato fazemos idéia... fala de uma inocência perdida... de como podemos aprender... ou melhor “reaprender” a sermos mais humanos... sobre um Alienigina que apesar de criança... é tão Sábio quanto um Ancião... e que por onde passa cativa as pessoas e também os animais... como a Raposa por um exemplo...

Hoje com quase 33 anos (falta pouco...) é que fui perceber algumas correlações... e graças a um inusitado trecho que recebi... que me tocou de um modo inesperado... tratando então de escrever sobre algumas inspirações e reflexões que me vieram a mente sobre o assunto... sobre nos reencantarmos com o mundo... pensamentos que não são poucos por sinal... então tenham paciência caso o texto lhe pareça longo... pois quando revelamos o que pensamos por escrito... estes costumam ser mais extensos... se comparados as idéias que transmitimos pela fala ou imagens... procurei portanto mesclar aquilo que há de melhor em cada um destes recursos... afim de repassar esta bonita mensagem do Pequeno Princípe adiante... em um momento de nossa Humanidade... em que apenas os nossos aspectos sombrios e negativos são noticiados nas midias em geral... mas aquilo que é belo e sublime... não vende... e portanto é deixado de lado... com tudo faz-se importante resgastar nossos valores humanos... contra um niilismo presente na pós-modernidade... que contrariamente nos desencanta... pode não ser uma tarefa fácil... mas é possível ser feliz... quando não a exterioziamos nos objetos... e sim no eterno cultivo do que é verdadeiramente essencial...

Bem continuando de onde paramos... sobre "cultivar e cativar"... observemos o seguinte: O Pequeno Príncipe cultiva e cativa a Rosa a todo instante... ele a cultiva regando-a... ao mesmo tempo em que a cativa... que a "prende" sob uma redoma de vidro... e que também cativa ao "ganhar a sua simpatia"... ao conversar e dedicar-se tanto por ela. Cativamos alguém... quando a cultivamos... ou seja cuidando deste relacionamento como uma planta... observando suas necessidades... do que este relacionamento precisa... de mais água (atenção) ou adubo (amor)... com todo este cuidado... de certo modo "prendemos" o outro de livre e espontânea vontade a nós... pois o cativamos... ganhamos a sua simpatia e confiança como o fez o Pequeno Principe com a Raposa... enquanto cultivamos e cativamos esta “amizade’ ela se mantém próxima a nós... quando deixamos de cultivá-la com atenção e amor... ela murcha... e a amizade é perdida... não importando o tipo de amizade e relação que tínhamos até então... o interessante é também refletirmos sobre a escolha do autor por uma Rosa... Rosas são flores simples... mas muito apreciadas em suas cores, perfume e beleza... apesar do nome Rosa... que empresta o seu nome a cor... ou a cor a flor... não sei a ordem em que tudo aconteceu... quem emprestou o quê... que não importa neste diálogo... já que mesmo sendo um monólogo ele já se torna um diálogo... quando se comunica com o leitor e provoca nele reflexões... a “Rosa” Flor arquetípica por sinal... é presentemente vermelha na mente coletiva... e não rosa da cor... geralmente quando alguém compra uma rosa... há uma tendência generalizando um pouco... a optar por vermelhas... que em nossa cultura popular representam a cor da paixão e do amor... e mesmo da sedução...

Cativar alguém não deixa de ser um tipo de sedução... não somente em sua conotação “sexual” como o fazem pensar os “psicólogos” rs... afinal o que buscarmos iremos encontrar... já que tudo não passam de projeções “talvez até literais” como a fisica quântica nos faz refletir... mas a sedução a que me refiro... não é só a dos eternos enamorados... mas a sedução... de nos sentirmos atraídos por alguém... que nos cultiva e cativa com atenção e dedicação... é o amor, o carinho, a atenção que dispensamos aos outros... que faz com que quem é cultivado se sinta bem em nossa presença e acabe por ser cativado... provocando a sensação que nos esqueçamos de quem somos... que somos e nos tornamos nestes momentos mágicos... apenas UM... que é como talvez verdadeiramente sejamos e sempre fomos “ao final”...

Uma Rosa é certamente uma escolha acertada para as nossas questões pessoais... delicada... exige um bom cultivo... para que a cativemos... porém apesar de sua frágil aparência... guarda espinhos em seu corpo... para nos lembrar sempre que temos de agir com cuidado em nossas relações... que um descuido de nossa parte... se agirmos com indiferença ou mesmo brutalidade... acabará por machucar a ambos... a Rosa e o seu respectivo Cultivador. A Rosa torna-se especial... não porquê seja a única no Planeta B612 de nosso Alienígena... O “Pequeno Príncipe”... mas sim por tornar-se especial para aquele que a cultivou... que de tanto cultivo... acabou por cativar a ambos. Há muitas Rosas na Terra... mas nenhuma é tão especial... quanto a de seu Planeta... como acaba descobrindo o jovem Principe ao final de sua jornada pela Terra... tudo faz sentido... por terem se tornado UM... por tornar-se afinal responsável pelo o que cultiva... saiu em uma grande incursão e jornada fora de sua terra natal... para após regressar ao ponto de origem e verificar que tudo o que precisava... tudo o que lhe era essencial sempre esteve com ele... e nunca esteve fora de si mesmo... a nossa verdade essencial ou intima... não reside fora... como descobriu o Principe... mas dentro de cada um de nós... a viajem ou jornada fisica... apenas é uma metáfora para descobrimos... cada um... a sua própria verdade...

Quanto a Raposa... um outro grande arquétipo... imortalizado como símbolo de esperteza e sabedoria em algumas histórias... como as encontradas em algumas das fábulas de Esopo... antecessor e inaugurador deste tipo de narrativas "morais" com animais ou fábulas como são chamadas... é muito bem aproveitado no Conto do Pequeno Principe... a Raposa mostra a sua sabedoria... ao refletir... que mesmo sabendo que um dia ao ser cativada... se sentiria “cativa” ou seja "presa" pelo outro... ainda sim não se arrepende do relacionamento e tempo que passaram juntos... e mesmo de todo o afeto e carinho... que a tornou “livre” pelos laços de amizade formados... que irrompem para além da necessidade de posse ou presença fisica... tornando ela... e o príncipe... dentre tantos Humanos e tantas Raposas... "especiais e diferentes"... de todos os outros iguais em aparência de ambas as espécies... que se diferenciaram dos demais justamente pelos sentimentos "cultivados e cativados" por ambos... a Raposa... mesmo sabendo da dor que a separação fisica provocoria um dia... preferiu sentir e envolver-se... e é este sentir que nos faz humanos e que nunca podemos nos esqueçer... se abstrairmos mais um pouco... ou indo talvez um pouco  mais longe... Seremos então capazes de refletir... quantos espinhos ao invés de rosas... não estaremos cultivando... o quanto a falta de cuidados como água = atenção e adubo = amor... acabam por provocar dor a nossos semelhantes... a todos os seres sencientes ou seja que sofrem e sentem dor... que inclui todo animal ou ser vivo... inclusive uma árvore ou planta.. e mesmo o maior dos seres vivos o nosso próprio Planeta... que como nesta Fábula de uma Rosa em um longínquo Planeta ou Asteróide B612... esta por implorar que não nos esqueçamos de cativá-la novamente... que possamos nos (re)lembrar do essencial... de como fazíamos antigamente... a fim de nos tornarmos eternamente responsáveis... quando dizíamos que era Gaia... A nossa Grande Mãe !!!

"O essêncial para a nossa felicidade é a nossa condição íntima, e desta somos nós os senhores." Epicuro

Namastê !

Comentários

  1. Simplesmente, um ótimo texto. A rede precisa de mais iniciativas deste cunho para o engradecimento da informação e da formação...

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  2. Obrigado Hermes... pelos saudosos comentários... Namastê !

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  3. maravilhoso texto! Estava tentando lembrar da frase desse livro que contém a palavra "cativas" (de um branco!!), joguei no google e o encontrei e quis ler até o final. Acompanharei esse blog a partir de agora!

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    1. Olá Letícia... Obrigado por sua visita e comentário que apreciei muito... Recentemente criei um outro Blog http://ielementum.blogspot.com.br nesta pagina correspondente ao Instituto Elementum onde busco desenvolver a Natureza Interior Humana a partir do contato físico com os 4 Elementos da Natureza (Terra,Água,Ar e Fogo). Neste blog adentro mais nas questões de ecologia e sustentabilidade em cj com o fator Humano. Já que precisamos Cuidar das Pessoas para que elas Cuidem da Terra. Leia por lá a Fabula Mito do Cuidado... Estou certo de que apreciara muito... Se tiver Facebook me adicione para mantermos contato... Mitakue Oasin (Saudação Indígena) cujo significado e "por todas as relações ou somos todos irmãos"

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Saudações ao Herói que uniu-se a esta Jornada...

PAX & LUX !
Rodrigo Wentzcovitch Marcilio

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