A Pedra e o Rio

Ao observarmos a Natureza somos capazes de aprender valiosas lições, e uma das mais clássicas vem através do rio. Filósofos do Ocidente e Oriente já observavam a Natureza e extraiam dela inspiração para refletir acerca do homem e sua relação com o todo, com o Cosmos. Há dois grandes filósofos que se destacam por suas idéias baseadas na observação da Natureza. São eles o Pré Socrático Heráclito de Éfeso (540 a.C. - 470 a.C.) no Ocidente, chamado também de o “Obscuro” devido ao livro “Sobre a Natureza” o qual foi escrito de forma Oracular, ou no melhor estilo das parábolas Zen do Oriente, aliás deste lado temos Laozi, Lao Tzu ou Lao Tsé, que são as grafias mais conhecidas do seu nome, que significa “Filho Velho”, o criador da filosofia Taoista, que se baseia plenamente no devir natural, nas leis naturais. Laozi em sua única e grande obra escrita em 600 a.C. o Tao Te Ching, ou Dao de Jing, comumente traduzido pelo nome de "O Livro do Caminho e da sua Virtude" que de forma não menos enigmática a qual se referiam a Heráclito, em seus 81 versos inicia dizendo que o verdadeiro TAO, que traduzido significa “Caminho” não pode ser dito. O verdadeiro TAO não pode ser dito por ser uma experiência, o verdadeiro TAO é subjetivo e não objetivo, apesar de o TAO ser um só, ele se manifesta de forma diferentes, e por isso não pode ser dito, cada um deve experenciar o seu próprio “caminho” e chegar a sua própria “verdade” por este motivo Laozi relutava em falar sobre o TAO. O verdadeiro TAO é um experiência unica e individual, ao compartilhá-lo ou falarmos sobre ele, passa a tornar-se apenas uma sombra do verdadeiro TAO. Para entedermos este conceito, temos que passear pelas margens do rio em compania de nosso grande amigo do saber Heráclito que dizia, que todo rio tinha dois leitos, e ao atraversamos para outra margem, nós que o atravessamos e o rio que nos transpassou, já não mais seriam os mesmos, pois ambos o homem e rio estariam em pleno movimento, portanto nem o homem e nem o rio, por mais que insistissemos jamais seriam os mesmo de outrora. Para Heráclito a única verdade imutável e eterna era a “Mudança”. Sim... exatamente tudo o que tentamos evitar é a mudança, que nos chega sem pedir licença, não há como se lutar contra esta lei. Laozi dizia que devemos fazer o minimo esforço, que se estivessemos em um rio, nem precisariamos nadar, basta-se que boiassemos sem grandes agitações deixando que o rio nos leva-se para onde desejava que fossemos. Ocorre que fazemos o contrário, a Sociedade Moderna em que vivemos, nos pede para que lutemos contra a correnteza, que o ego acostumado a desafios, se agigante do rio, e vença-o. Laozi nos diria provavelmente que tal luta seria um grande desperdicio de energia, um movimento anti-natural. O que nos leva a nadar contra a correnteza ? Seremos nós mais fortes que as leis sob as quais também fazemos parte e estamos todos conectados. Nós sabemos o que ocorre com os melhores nadadores que tentam vencer inultimente a forte correnteza do rio... só há duas alternativas... se insitirmos de mais, ficamos exaustos e nos afogamos ou desistimos da luta e nos lançamos a sorte, nos agarrando há algum galho de árvore, esperando que a fúria passe e possamos atringir tranquilamente a outra margem. Heráclito via Deus na Natureza, em seus elementos, o qual o fogo era o principio criador de todas as coisas, o Cosmos nasce do fogo, e pelo fogo é consumido, o fogo condensado se torna a agua e solidificado se torna a terra e a partir dai nascem todas as coisas. Ao pensarmos nos problemas como pedras, nos esqueçemos destas valiosas lições advindas destes Grandes Mestres do Oriente e Ocidente, se formos como o rio, saberemos aproveitar as oportunidades, e rapidamente desviaremos o nosso curso a cada pedra com que cruzarmos pelo “caminho”, pedras em padrões humanos são quase que eternas, apenas a ação do tempo e das águas é que criam erosão e fazem com que virem areia e desapareçam no tempo. Isto é bom para refletirmos que problemas parecem ser eternos, e como pedras se lançadas ao rio tendem há afundar, e permanecerem lá no fundo. Se agirmos como o rio, rapidamente contornaremos as “pedras” do “caminho” em direção ao nosso próposito, em direção ao Oceano, a fonte de onde o rio em sua origem brotou algum dia e deve novamente retornar após um longo trajeto.

“Dura é a luta contra o desejo, que compra o que quer à custa da alma.” Heráclito

Namastê !

Comentários

  1. Parafraseando o Pe. Fábio de Melo : "Quem disse que ser gente é fácil ?".
    Engraçado como a dita "racionalidade" presente em nós facilita muitas coisas, mas cria barreiras tão complexas em nosso viver, que estar em harmonia com a natureza parece ser uma coisa tão difícil...
    Acredito que estar em harmonia com a natureza e todas as mudanças que essa harmonia nos leva, é um dos maiores desafios da vivencia humana.
    Excelente post !!
    Abraços !!!!

    ResponderExcluir
  2. Os Estóicos já tinham esta idéia de viver em harmonia com a Natureza, aceitando dela o que viesse de bom ou de ruim...

    Namastê !

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