Um Olhar sobre o Processo de Individuação

A primeira e mais duradoura de todas as batalhas humanas foi travada em um lugar não muito distante de casa, mas nem por isso menos obscuro ou secreto, a mente ou alma humana. De lá não saíram vencedores ou perdedores hasteando suas bandeiras, mas aliados cujas forças são tão equilibradas, que resultariam em um completo aniquilamento de ambos os lados opostos do fronte de batalha. Quando os personagens envolvidos nesta batalha se dão conta de que estão participando de uma guerra, onde ambos os lados têm sofrido graves baixas, mas sem uma decisiva vitória final, que possibilite a conquista da outra margem. Acabam por elegerem um comando neutro que represente a ambos os lados, e traga o balanço das forças, o equilíbrio capaz de regular o atendimento das reivindicações destas forças que mesmo opostas, com o aprendizado do trabalho em conjunto são capazes de complementarem-se umas as outras. Trata-se da eterna luta da dualidade humana, em integrar os seus Pares de Opostos, pode-se falar em bem e mal, masculino e feminino, luz e sombras, divino e demoníaco, sagrado e profano, yin e yang e por fim Consciente e Inconsciente. Carl Gustav Jung, Psiquiatra Suíço idealizador da Psicologia Analítica ou Profunda, chamava esta batalha que todos nós travávamos em nossa Mente ou Alma, de Processo de Individuação, que em nada tem haver com a idéia de tornar-se uma pessoa egoísta ou mesquinha, ou ainda em atingir uma perfeição Nietzschiana de Super-Homem ou Além do Homem, mas trata-se em principio de um movimento de crescimento psíquico em que passamos a nos entender com as forças opostas que nos influenciam, integrando-as onde antes haviam forças fragmentas lutando por sua soberania. O Processo de Individuação pode ser observado, principalmente através dos Sonhos, no patamar do Self (representado por arquétipos como sacerdotes, velhos sábios, filósofos, magos, guias espirituais, divindades geralmente do mesmo sexo do sonhador), representa o ponto central da vida psíquica, cujo objetivo é tornar-se o Si Mesmo, indivíduos capazes de aceitarem-se a si próprios com suas inerentes virtudes e imperfeições que os acompanham. Não mais rejeitando e relegando a Sombra, aqueles aspectos rejeitados de si mesmo, representados no inconsciente através de figuras escuras e deformadas, ou ainda como demônios e monstros (geralmente de mesmo sexo do sonhador). Outras instâncias que precisam ser integradas são as da Persona, os papéis sociais que representamos para os outros (Filho, Irmão, Pai, Mãe, Amigo, Profissional e outros), que se confundem com a identidade, mas não passam de máscaras que utilizamos para o convívio Social. Além dos Arquétipos da Anima (imagem feminina no homem) e Animus (imagem masculina na mulher) que também serão confrontados e integrados a posteriori, e que sempre aparecem como sexo oposto ao do sonhador. A noção de Arquétipo postula a existência de uma base psíquica comum a todos os seres humanos, que aparecem através de mitos, contos de fadas, nas artes, na filosofia, nos dogmas e ritos religiosos, cujos temas aparecem nos sonhos de todas as pessoas, e que viabilizam a idéia de que além de um Inconsciente Pessoal teríamos um Coletivo, partilhado por toda a humanidade e nossos ancestrais. Para Jung o Processo de Individuação ocorreria em maior ou menor grau em todas as pessoas, tal como um instinto, por volta da meia idade onde se pesa as conquistas e os projetos futuros para a outra metade. Para alguns autores contemporâneos tal processo ocorreria por toda a vida, manifestando-se nos períodos que marcam o ingresso em uma nova fase de vida como: o ingresso da vida escolar, da infância para a adolescência, desta para a vida adulta, o ingresso no mundo profissional, o momento do casamento e constituição de família, ocorrendo com uma maior intensidade por volta da meia idade como descrito por Jung e próximo da morte do individuo quando atingiria o seu ápice. A idéia de um Inconsciente pode ser representada simbolicamente em um sonho como a água, o mar, o oceano dado a sua natureza que nos remete a profundidade, bem como as ondas dos movimentos de fluir. O Ego (representado nos sonhos muitas vezes como castelos, torres, obeliscos, fortalezas) é considerado como o centro da vida psíquica consciente, que emerge neste sentido entre as forças da Sombra e do Self, como forma de perceber a dinâmica dos opostos integrando-os por fim ao Self. O fato de nos tornamos conscientes do Processo de Individuação, se torna uma vantagem ao interagirmos conscientemente nesta dinâmica, resultando em um grande auto-conhecimento e como tal no descobrimento de nossas forças e também fraquezas. Tentar escapar de tal processo, apenas o torna mais doloroso, e como no conto do Médico e o Monstro nos torna refém de nossa própria Sombra, que pode emergir fora de nosso controle, ao invés de a integrarmos e a utilizarmos a nosso favor. Por fim para compreendermos a idéia do Processo de Individuação, temos de recorrer a metáforas, símbolos e sonhos, que nos remetem a Mandala que em Sânscrito significa "círculo ou circulo mágico", cujo Self representa o núcleo central da psique, a fonte da energia psíquica, que impele o individuo a tornar-se aquilo que ele é, transformando Caos em Cosmos. Ou o Opus Alquímico, a Pedra Filosofal, que transmuta em Ouro.

Os Símbolos aqui comentados não devem ser levados completamente a cabo como representações literais que se ajustam a qualquer sonho, pois cada sonho e sonhador, pode ter uma dinâmica diferente, pois se não a interpretação dos sonhos tornaria-se apenas um manual, o que seria impossível de concebermos, já que símbolos e sonhos são um processo vivo e em constante fluxo natural. Capaz de nos revelar ao estarmos atentos a sua linguagem enigmática, o nosso estado interior, e as possíveis respostas para a resolução de conflitos, que nos aproximam da Individuação. Referência: Jung Vida e Obra, Nise da Silveira
"Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro acorda." Carl Gustav Jung

Namastê !

Comentários

  1. Parabéns pelo post, tá fantástico, e a música encaixou certinho.. abraço

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